Instrumentos serão utilizados na obra sacra de Bach, considerada uma das mais extraordinárias de todos os tempos
Para que a obra do compositor alemão Johann Sebastian Bach, “A Paixão Segundo São Mateus”, considerada uma das obras-primas da música ocidental, pudesse contar com o máximo de realismo na representação do sofrimento e morte de Jesus Cristo, o Festival de Música Internacional de Santa Catarina (FEMUSC) vai usar dois oboés da caccia (oboés de caça), que virão da Rússia. A musicista Aglaia Golubeva, conhecida por “Glasha”, trará diretamente de Moscou os instrumentos, emprestados pelo professor Philip Nodel, do Conservatório Tchaikovsky, um dos mais importantes do mundo, ao lado do de Paris e da Juilliard, de Nova York.
Além dos oboés de caça, para o preciosismo do espetáculo, a ópera também contará com dois oboés d´amore, que têm o som mais grave que os oboés soprano, mais comumente encontrados. Os instrumentos estão sendo impressos em 3D no Rio de Janeiro, e o projeto ganhou o apelido de ‘oboé 3D’Amores”.
O 3D’Amores foi proposto por Alex Klein a Leonardo Fuks, doutor em Acústica Musical pela KTH-Suécia (Instituto Real de Tecnologia de Estocolmo), e consiste em desenhar e construir o primeiro oboé d’amore do mundo por meio de impressão 3D. O desenho e a impressão são realizados em parceria com Thiago Palhares, mestre em química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A intenção de Klein é tornar o oboé mais conhecido e usar a tecnologia para baratear o custo do instrumento.
De acordo com o maestro Alex Klein, idealizador do FEMUSC, a vinda dos instrumentos confere o simbolismo perfeito para a montagem da ópera no festival. As falas de Jesus são sempre acompanhadas por um coral de cordas. No início da apresentação, oboés soprano indicam o cotidiano de Jesus, sem sobressaltos. É a partir do meio do espetáculo, que os músicos passam a usar os oboés d´amore: “Eles indicam a dramaticidade da obra, a delação de Judas e a prisão de Jesus”, conta Alex.
Os oboés de caça, com uma sonoridade tida como ‘amarga’, são utilizados na parte final da apresentação e representam a aproximação da morte de Jesus. “Logo após a morte de Cristo, Bach explica musicalmente como a salvação entrou na humanidade”, explica Klein. Os oboés da caça seguem tocando mesmo depois da morte, mas a música já não reproduz violência, e sim paz. “O simbolismo é óbvio, dali em diante a felicidade da humanidade seria sempre acompanhada da realidade da morte de Cristo e que alguém (Cristo) morreu para que esta felicidade fosse possível”, finaliza.
Ópera
“A Paixão Segundo São Mateus”, reconhecida como uma das mais extraordinárias obras sacras de todos os tempos, será interpretada pela Orquestra Barroca do FEMUSC e pelo coral infantil do Femusckinho.
A obra também será encenada como uma ópera, unindo música com a representação completa da Paixão de Cristo. O espetáculo terá direção de cena da cantora soprano dramático, atriz e professora Céline Imbert de Figueiredo e participação de Jabez Lima (Evangelista); Matheus Alvarenga Diniz (Jesus); Lorena Millar (Maria Madalena); Yunuen Flores (Maria).
FEMUSC
A 18ª edição do FEMUSC – Festival Internacional de Música de Santa Catarina, considerado o maior festival-escola da América Latina, acontece de 8 a 28 de janeiro e abre o calendário cultural do estado. O festival celebra o encontro entre o erudito e o popular, reunindo grandes nomes do cenário nacional e internacional.
Um elenco de professores renomados vindos de diversas regiões do Brasil e do exterior, programas de ensino que atendem todas as faixas etárias, e concertos gratuitos que acontecem em diversos pontos da cidade, fazem do festival um evento diferenciado, e um verdadeiro legado para toda a região. O FEMUSC movimenta o turismo, faz girar a economia, gera empregos e renda, e espalha arte e cultura pelos quatro cantos da cidade, fomentando a formação profissional dos músicos envolvidos e proporcionando momentos únicos ao público.
No total, são 79 professores, metade estrangeiros, que vão à Jaraguá do Sul para compartilhar conhecimento e multiplicar experiências. Nomes como o da cantora Jane Duboc, do maestro Roberto Duarte, do violinista Simon Bernardini e do instrumentista Renato Borghetti (MPB) estão entre os destaques desta edição.
A grandiosidade do FEMUSC pode também ser representada através dos números previstos para 2023. Segundo os organizadores, já são mais de 1,2 mil alunos inscritos – do Brasil e de outros 32 países – três semanas de atividades e mais de 200 apresentações. “Não existe nada como o FEMUSC. Ele vai além da música. É um projeto humanitário”, destaca o maestro Alex Klein, um dos principais oboístas da atualidade, ganhador do “Grammy” na música erudita e, idealizador do festival.